Para certo tipo de homem, hoje em dia, uma das maiores dificuldades
em se conseguir uma parceira é encontrar mulheres que abandonaram o velho esquema
de “isso é coisa de menino, aquilo é coisa de menina”. Isso tanto é mais surpreendente
quanto mais se pode perceber a ampliação de espaço que as mulheres têm conquistado,
em todos os campos.
OK, não estamos falando daquele típico rapaz de subúrbio que
ainda se indispõe com uma mulher por conta da roupa ou da maquiagem. Estamos
falando do homem mais maduro, estabelecido, que atingiu certo nível cultural.
E, por algum acaso, inexistirão mulheres nas mesmas condições? Obviamente, não.
E por que os homens têm a tal dificuldade em encontrá-las?
Eis o “x” da questão. Muitas dessas mulheres ainda estão presas
a estereótipos a respeito de sua própria feminilidade. Faça um teste: aborde
suas amigas mais antenadas, mais informadas e que mais procuram manter-se atualizadas
em termos de cultura. Converse sobre cinema com elas. Todas, sem exceção, terão
visto “Cinema Paradiso”, de Tornatore. Um belíssimo filme, por sinal. Indispensável,
aliás. Trilha sonora muito popular, de Morricone, roteiro amarrado e enredo
muito sensível. Bela fotografia.
Muito bem. Agora pesquise entre essas mesmas amigas quais delas
assistiram ao filme “O Poderoso Chefão”, de Coppola. Trilha sonora arrasadora,
roteiro impecável, enredo denso, atores impecáveis. Ah, mas é “filme de máfia”!
é desconcertante dizer, mas a maior parte de suas amigas lhe dará essa resposta,
ou coisa parecida, para justificar o fato de que jamais se interessaram pelo
filme. Bom, mas isso pode ser um fenômeno relacionado ao cinema, por conta da
linguagem imagética ou sei lá o quê.
Parta para os livros. Todas terão lido Gabriel Garcia Márquez,
escritor premiado, autor de pérolas como “Cem anos de Solidão”, praticamente
um re-inventor do idioma espanhol e ponto máximo do realismo fantástico. Mais
um caso de componente indispensável para a formação cultural sólida de uma pessoa.
Bom, mas e Herman Melville? Ou Hemingway? Para começo de conversa, não sei por
que cargas d’água à mulheres não se pode oferecer clássicos literários em livrarias.
Para final de conversa, se os temas de “Moby Dick” e “O Velho e o Mar” fossem
expostos às nossas pesquisadas, elas os rechaçariam sob as alegações mais variadas:
violência, competitividade exacerbada, tratamento muito objetivo etc. Em suma:
é coisa de homens, sabe?
E assim ficamos apartados. Aos homens se permite acessar todo
o universo cultural existente, às mulheres se pretende que exista uma especificidade
qualquer. O resultado disso é que homens cultos têm dificuldades de conversar
com mulheres cultas, porque estamos num sistema que acredita numa cultura “universal”,
amplamente masculina, e numa “feminina” que, entretanto, pode perfeitamente
ser assimilada pelos homens. E o pior é que as coleguinhas aceitam esse estado
de coisas na maior normalidade. Já é tempo de mudar, não é verdade?
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